Nos líderes, o controle cognitivo é fundamental para competências de liderança como a autogestão — a capacidade de focar em um objetivo e a disciplina.
por Daniel Goleman* (traduzido e adaptado do original em inglês)
Atualmente, os líderes são bombardeados com inúmeras intrusões diárias: e-mails urgentes, compromissos a cada 15 minutos, decisões (que variam de contratações até visão geral), dentre outras. A maioria deles viaja com tecnologias que os conectam a uma torrente contínua de mensagens e dados, 24 horas por dia, sete dias por semana.
Essa onda de distrações desvia a atenção para longe do que é imediatamente necessário. Aqueles toques e alertas aparentemente urgentes podem não ser cruciais. Trabalhar para manter um foco claro em uma tarefa — a despeito das intrusões — consistentemente ocupa os circuitos cerebrais voltados à atenção.
"Esforço cognitivo" é a expressão técnica para a atenção mental exigida para processar nossa carga de informações. Da mesma forma que os músculos do nosso corpo, a atenção pode se esgotar: sintomas comuns desse esgotamento são baixa efetividade, aumento da distração e irritabilidade. Esses sintomas também indicam queda na energia requerida para sustentar nosso funcionamento neural.
A concentração, por outro lado, requer a escolha de um único ponto de foco e a resistência à pressão dos demais. Para manter a concentração, é preciso filtrar um universo de irrelevâncias e determinar o que é importante. Líderes que desempenham bem essa tarefa estão aptos a evitar o esgotamento de atenção; eles permanecem energizados, ao invés de dispersos e distraídos.
Infelizmente, um foco agudo nos objetivos não é o único tipo de atenção de que os líderes precisam. Criatividade e inovação, por exemplo, exigem uma atenção mais aberta e relaxada. É aqui que a autoconsciência torna-se crucial: monitorar a atenção nos permite verificar se nosso modo de atenção é adequado a uma dada situação.
Na atenção top-down ("de cima para baixo"), nós ativamente decidimos o que vai receber nossa atenção. A atenção bottom-up ("de baixo para cima") significa que nós funcionamos mecanicamente, deixando que nosso foco seja direcionado por qualquer coisa que o atraia. A atenção bottom-up nos torna ignorantes em relação às preferências e pontos cegos no inconsciente. Existe um lugar para ela na vida, é claro — mas esse lugar não é no trabalho.
"Controle cognitivo" é a expressão técnica para empregar nossa capacidade de atenção top-down — um aspecto essencial na autoconsciência. Em líderes, o controle cognitivo é fundamental para competências de liderança como a autogestão — a capacidade de focar em um objetivo e a disciplina para persegui-lo mesmo em meio a distrações e reveses.
O interessante é que o mesmo quadro neural que permite uma intensa busca pelos objetivos também gerencia emoções indisciplinadas. Um forte controle cognitivo é, portanto, presente em líderes que permanecem calmos em emergências, subjugam sua agitação e podem se recuperar rapidamente da derrota.
Para ilustrar o poder do bom controle cognitivo, vamos considerar as implicações de um estudo longitudinal de 15 anos realizado em Dunedin, Nova Zelândia. A pesquisa testou rigorosamente o controle cognitivo de mais de mil crianças, e as rastreou novamente quando elas chegaram aos 30 anos. Surpreendentemente, a capacidade de manter o foco frente às distrações durante a infância foi um forte precedente do sucesso financeiro na idade adulta, mais do que o QI ou o status financeiro de suas famílias.
A autogestão também pode ser vista nos executivos que são honestos a respeito das suas qualidades e seus limites. Isso significa que eles podem ter confiança em seu desempenho quando estão operando dentro dessas limitações, mas que também sabem quando é hora de contar com colegas para obter os melhores resultados.
*Daniel Goleman é um dos maiores experts em liderança e inteligência emocional do mundo dos negócios.
Fonte: administradores.com
Fonte da imagem: adaptado do freepik
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